sábado, 29 de agosto de 2009

Poemas com a letra T




TEMPOS DEPOIS

Um dia, distraída, os olhos alongavas
Sobre a Paisagem morta e áspera do outono,
Nos longes do poente imersa, e desfolhavas
Nos dedos uma rosa em mórbido abandono.

No lábio arqueado e nobre um sorriso gelado,
No olhar profundo e sério uma tristeza doce:
Nesse sorriso a dor de um coração magoado
Eu vi, e nesse olhar um sol que eclipsou-se.

Quem feriu, impiedoso, a tua adolescência,
Que mágoa borrifou os teus dezoito anos?
Foi um espinho, flor? Foi um olfato, essência?
– Covardia brutal dos corações humanos!

Tempos depois lembrou-me a tarde em que te vira
A desfolhar absorta, uma rosa, fitando
A paisagem do outono; o outono já fugira
E a primavera vinha os campos aloirando.

Foi quando, bela e fria, o teu olhar gelado
Deixou-me a sensação cruenta do abandono...
A flor dos sonhos meus havias desfolhado
Tal como a rosa outrora, a rir, ao sol do outono!

* * *



TORTURADO...

Por que hás de vir assim com teu sorriso calmo
E a tua voz maviosa, e o teu olhar radiante,
De minh'alma sondar o fundo abismo hiante,
Como quem sonda um mau terreno palmo a palmo?

Há clangor de blasfêmia e doçuras de salmo,
Em torno; e em cima o vento histérico e possante
Da Dúvida cruel com seu sopro gigante,
Ruge, quando em teu rosto o meu olhar espalmo.

Se sorris, eu recuo; se choras, me aproximo
E, como um rio, então abro o meu seio, o limo
Dorme quieto ao fundo: é o repouso da Dor!

Sufoca o teu querer; preme ao seio a paixão...
Não chega a saciar meu doido coração
A mágoa deste afeto, a angústia deste amor!


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