VERSOS A ESTELA
A tua voz revela
Tanta doçura e amor
No carinhoso acento!...
Ouvindo-a eu sinto, Estela,
Tornar-se gozo a dor
E em gozo o sofrimento!
E o teu sorriso honesto
E luminoso e branco,
De uma doçura ideal,
Ouvindo-o esqueço e arranco
O meu pesar funesto
E a minha dor fatal!
Se a tua mão, Estela,
Em minhas mãos se esquece
Em doce devaneio;
Sendo eu possuidor dela
Sinto um dulçor de prece
A me invadir o seio!
É que essa mão pequena,
–A mão de uma criança,
–A mão de uma donzela,
Parece uma açucena
Trazendo uma esperança
Mandada de uma estrela!
A minha vida louca
Eis, se resume nisto,
Meu doce paraíso!
Meu livro é tua boca,
E tu és o meu Cristo,
E a hóstia um teu sorriso.
Na pira imaculada
Do teu olhar de luz,
Feito de amor e paz;
Uma alma mergulhada
Tornara-se Jesus
Depois de ser Caifás!
Se o teu olhar de calma
E luz pura e suave
Me envolve num clarão:
Eu sinto que em minh'alma
Se estende, etéreo e grave,
Um pálio de perdão.
É que essa luz bendita
– A luz aveludada
De teu celeste olhar,
Me deixa n'alma aflita
Um raio de alvorada
E um raio de luar!
É que teu casto olhar
É tão suave e são,
Feito de amor e calma,
Que até faz rebentar
Rosais no coração
E lírios dentro d'alma!
* * *
VOLTANDO DO BANHO
Voltas do banho. O sol no Oriente te alumia.
E como vens radiosa e meiga o sol gozando,
Com o teu sorriso doce o lábio arregaçando;
Úmido o lábio, e o olhar mais claro do que o dia.
Nos ombros a toalha alvíssima aparando
Os dois rolos da trança umedecida e fria,
Da opulência real das tranças da judia,
Uma fronte de jaspe, ebúrnea, encaixilhando.
Quem não te desejara um beijo dessa boca
Fresca como um pomar rociado, que se touca
De flores ao sair do frio dos invernos?
Crê-me, apenas te guarda a castidade branca
Essa risada honesta, ingênua, boa e franca,
E esses olhos de criança, azuis, grandes e ternos.
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