sábado, 29 de agosto de 2009

Poemas com a letra L

        

            LÁGRIMAS

Lágrimas tristes, lágrimas doridas,
Podeis rolar desconsoladamente!
Vindes da ruína dolorosa e ardente
Das minhas torres de luar vestidas!

Órfãs trementes, órfãs desvalidas,
Não tenho um seio carinhoso e quente,
Frouxel de ninho, cálix recendente,
Onde abrigar-vos, pérolas sentidas.

Vindes da noite, vindes da amargura,
Desabrochastes sobre a dura frágua
Do coração ao sol da desventura!

Vindes de um seio, vindes de uma mágoa
E não achastes uma urna pura
Para abrigar-vos, frias gotas d’água!

                 *  *  *


            LITANIAS

                    I
Que vida esta amarga e treda,
Que desabar! que terremoto!
Que fim brutal! que horrível queda!
Que vida esta amarga e treda!
Missal do sonho aos ventos roto.

                   II
Neves do inverno da agonia!
Folhas do outono da amargura!...
Em noite fria, em noite fria, –
Neves do inverno da agonia,
Caí na minha sepultura.

                  III
Imensas órbitas sequiosas
Do coração, ensangüentadas,
Vazios cálices de rosas,
Imensas órbitas sequiosas
Famintas sempre, insaciadas.

                  IV
Fauces de abismo, amplas crateras
Escancaradas a esperar
A lava rubra das quimeras...
Fauces de abismo, amplas crateras,
Não vos enchera o próprio mar.

                  V
Lírios magoados da saudade,
Violetas roxas da tristeza,
Crescei sem luz, sem claridade,
Lírios magoados da saudade,
Sob as lufadas da Incerteza.

                 VI
Ânsias de amor, adejos místicos
Ó veleidades de ideal!
Na treva um dedo traça dísticos...
Ânsias de amor, adejos místicos,
Parai, sofreai a ânsia fatal!

                 VII
Ó meus castelos senhoris
Ao luar do amor edificados!
Tanto vos quis! Tanto vos quis!
E os meus castelos senhoris
Ei-los por terra, ei-los tombados!


                *  *  *


                 LUTAS

Sinto-me triste e fatigado. Ainda
Vibra-me n'alma o seu olhar severo,
Inflexível, frio, calmo e austero,
Cheio das fezes de uma dor infinda.

A dúbia luz da lamparina treme,
Vacila como eu, como eu descora,
No entanto, aos poucos no Oriente a aurora
Sacode a cabeleira de oiro e creme.

O crótalo do ciúme o dente crava
Em meu amor; e eu sinto-me covarde
Nesta luta cruel, tenaz e brava
Onde minh'alma se estorcendo arde.

Deus do vencido, ó sono! me acalenta
Esta agonia atroz que me esfacela!
Mas não, ó Dor! o sono me afugenta
Pois eu posso talvez sonhar com Ela...

                   *  *  *





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