sábado, 29 de agosto de 2009

SOBRE LÍVIO BARRETO, DA ORELHA DO LIVRO


Lívio foi poeta por uma violenta impulsão de seu organismo, a que não pôde fugir nunca, mesmo quando o fel dos desalentos o punha temporàriamente fora das lides da inteligência. Ele foi, quanto a mim, nestes últimos anos, a mais completa envergadura de poeta que floresceu no Norte, pois ninguém como ele possuía essa delicada sensibilidade artística que o fazia versejar às soltas, descompassadamente, numa alucinação incoercível de vidente.

Artur Teófilo
-------------------------------------------

“Da geração de cearenses que procura dar impulso às letras com sadia e vigorosa orientação, Lívio destacou-se pela originalidade do talento, pela rara maneira de dizer e pela intuição elevada que possuía das cousas da Arte.”
“...meu jovem conterrâneo e amigo, cujo talento não chegou a lapidar-se na leitura dos mestres, mas deixou espólio suficiente para julgarmos do muito com que poderia enriquecer a nossa literatura, se a morte não o arrebata aos 25 anos de idade, quando procurava aprumar a sua educação literária dando a seus versos um cunho de ideal superior.

Waldemiro Cavalcânti
-------------------------------------------

"Foi um gênio como poeta! Empregado do comércio, moirejando sempre contra a sua íntima vocação de fadado das musas, Lívio Barreto foi um vencido do destino."

Rodrigues de Carvalho

-------------------------------------------

Lívio, dotado de um gênio taciturno e índole impressionável, imprimiu, pelo sofrer da sua infância e da sua mocidade, um cunho característico na sua enfermiça psicologia. Daí a mania do desgosto, com toda a exacerbação da alma enfurecida a cometer incessantemente a sua idéia. Magnan dar-lhe-ia o diagnóstico de: anxiomania e Max Nordau colocá-lo-ia ao lado de Maurice Rollinat, a rememorar na impertinente sensação da histeria os fluidos místicos do seu Les Névroses. Contudo o poeta sabia gemer e chorar com arte; saía-lhe de mistura com o pranto o estilo icástico e terso.

Liberato Nogueira

-------------------------------------------
Hoje, relendo a obra dos nossos versejadores de 25 anos para cá, vemos que raros deles conseguiram firmar uma reputação sustentável perante a crítica mais benévola. Entre os melhores avulta Lívio Barreto, morto aos 24 anos e cujo livro, Dolentes, tem páginas que prenunciam um grande e original poeta.

Antônio Sales
-------------------------------------------

Tem sonetos florentinamente burilados, de uma doçura petrarquiana de Campoamor, de uma melancolia terna, meiga e suave de Lamartine. Em muitas de suas páginas pompeia o lirismo peregrino e feiticeiro numa insuperabilidade de Gonzaga; em outras, ressuma, muita vez, a desolação ossiânica de um Laurindo Rabelo, e. algo desse spleen letárgico e doentio de Junqueira Freire. Vivesse em outro meio mais adiantado e não fosse tão curta a sua existência, poderia garbosamente colocar-se ao lado dos nossos mais perfeitos artistas de hoje.

Mário Linhares
-------------------------------------------

A nota predominante na lírica de Lívio Barreto é o desalento. Mas a fonte da sua inspiração portentosa nem sempre lhe brotou do amor impossível. A sua musa, suave e terna, se inspirou também na paisagem dos campos, nos aspectos da vida sertaneja.

Gastão Justa
-------------------------------------------


"Mesmo não sendo um simbolista ortodoxo, como o foram, por exemplo, Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, no plano nacional, Lívio Barreto pode ser apontado como o maior simbolista cearense. (...) É uma grande figura da nossa Poesia. Um poeta maior, de mensagem rica e cheia de substância lírica. Um poeta de quem pode e deve orgulhar-se a inteligência cearense."

Artur Eduardo Benevides
-------------------------------------------

"Lívio fez poesia como quem constrói uma balsa para escapar de uma ilha deserta. Essencialmente individualista, sua temática espelha um mundo interior assombrado por desenganos, aflições e ceticismo. Não se procure nela uma Arca de Noé para solucionar os problemas da humanidade nem um dreno para esvaziar o homem do sofrimento universal que os alemães chamam de Weltschmertz. Ela deve antes ser vista como um piedoso "miserere" do homem que dignifica a dor, como se ela fosse a única sugestão válida para a comunhão com o universal."

Victor Hugo Motta

Nenhum comentário:

Postar um comentário