BELA
Alta, franzina, erecta, o porte nobre e fino
De uma graça ideal e planta delicada...
Através do esplendor da renda perfumada
Emerge o seio firme, estonteador, divino.
De uma graça felina e de risadas francas,
Ao olhar-nos o fulgor de seus olhos serenos
Faz lembrar em jardins de seiva e viço plenos
Dois miosótis azuis entre açucenas brancas!
* * *
BOA VIAGEM
A Eduardo Sabóia
Alonga
a tua vista, olha, perscruta
A aquosa
solidão que se distende,
Sagrada,
misteriosa, álgida e bruta,
E, pensativo, atende.
Afla ao
vento marinho a vela túmida,
Sobre
o dorso da vaga o barco voa,
Sacode
o oceano a cabeleira úmida
Sob a cortante proa.
Das
desoladas, pensativas plagas
Do ar
se eleva um coro d'ais, errante!
É a
dolorosa súplica das vagas
À luz agonizante.
Morre
na umbela extrema do Ocidente
O sol
– rosa de fogo em campo raso –
Vaga
a saudade no ar fluidicamente...
É o ocaso! o ocaso!
E o
barco foge e a noite se aproxima,
Sinistra
o envolve, ó noite atra dos mares!
Como
que se une o pesar de cima
Com os nossos pesares.
E quem te embalará, viajante pálido,
O sonho tardo que a saudade instila,
Quando o sono fechar-te ao sopro cálido
A lânguida pupila?
E
quando o luar na espuma lactescente
Seus
reflexos lançar, trêmulos, baços,
E a
tua alma chorar, quem, docemente,
Há de estender-te os braços?
Ninguém!
Família, amor deixaste e vais,
O
rosário desfiando das saudades,
Em
busca de remotos ideais,
Longínquas claridades.
Que de
teu lar a imagem te proteja,
Cantando
o poema das recordações,
Nessa
cruenta, intérmina peleja
Das nobres ambições;
Que te
perfume a adolescência forte
A
saudade santíssima dos teus:
No
frio sul lembra o calor do Norte...
Boa
viagem, meu amigo, adeus!
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