sábado, 29 de agosto de 2009

Poemas com a letra B




                     BELA

Alta, franzina, erecta, o porte nobre e fino
De uma graça ideal e planta delicada...
Através do esplendor da renda perfumada
Emerge o seio firme, estonteador, divino.

De uma graça felina e de risadas francas,
Ao olhar-nos o fulgor de seus olhos serenos
Faz lembrar em jardins de seiva e viço plenos
Dois miosótis azuis entre açucenas brancas!

                      * * *



BOA VIAGEM


A Eduardo Sabóia


Alonga a tua vista, olha, perscruta
A aquosa solidão que se distende,
Sagrada, misteriosa, álgida e bruta,
E, pensativo, atende.
Afla ao vento marinho a vela túmida,
Sobre o dorso da vaga o barco voa,
Sacode o oceano a cabeleira úmida
Sob a cortante proa.


Das desoladas, pensativas plagas
Do ar se eleva um coro d'ais, errante!
É a dolorosa súplica das vagas
À luz agonizante.
Morre na umbela extrema do Ocidente
O sol – rosa de fogo em campo raso –
Vaga a saudade no ar fluidicamente...
É o ocaso! o ocaso!


E o barco foge e a noite se aproxima,
Sinistra o envolve, ó noite atra dos mares!
Como que se une o pesar de cima
Com os nossos pesares.
E quem te embalará, viajante pálido,
O sonho tardo que a saudade instila,
Quando o sono fechar-te ao sopro cálido
A lânguida pupila?


E quando o luar na espuma lactescente
Seus reflexos lançar, trêmulos, baços,
E a tua alma chorar, quem, docemente,
Há de estender-te os braços?
Ninguém! Família, amor deixaste e vais,
O rosário desfiando das saudades,
Em busca de remotos ideais,
Longínquas claridades.


Que de teu lar a imagem te proteja,
Cantando o poema das recordações,
Nessa cruenta, intérmina peleja
Das nobres ambições;
Que te perfume a adolescência forte
A saudade santíssima dos teus:
No frio sul lembra o calor do Norte...
Boa viagem, meu amigo, adeus!




 


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